terça-feira, 30 de julho de 2013

MISSÃO INTEGRAL: UM CONVITE À REFLEXÃO PARTE 3


 Irmãos, essa é a terceira e última postagem do artigo Missão Integral: Um Convite à Reflexão
Escrito por Ricardo Quadros Gouvêa publicado no site da FTL  


1.      Missão integral não é “estratégia de evangelização”.

Eu peço perdão por iniciar esta parte com algo aparentemente tão banal, mas também tão fundamental. Vale dizer que eu mesmo já ouvi pessoas, em reuniões da FTL, manifestarem em suas falas, sem serem corrigidas, estar sob a sombra deste terrível equívoco. Não há equívoco mais contrário ao espírito da teologia da missão integral, em minha opinião, do que pensá-la como uma estratégia para a evangelização. É evidente que os adeptos da teologia de missão integral logo dirão que o próprio conceito de evangelização ganha novas cores a partir da adoção da noção de missão integral, que deixa de ser mera conquista de almas para Cristo, etc. etc. Porém, por outro lado, quem comete esse equívoco ainda não está, em geral, sob o impacto de uma nova compreensão do evangelho e da missão da igreja que a teologia de missão integral impõe. De qualquer forma, os evangélicos em geral tendem a cair ou recair em fórmulas gnósticas que separam e distinguem o material e o espiritual, o corpo e a alma, num espírito contrário ao do ensino neotestamentário. Vale a pena, portanto, lembrar e alertar que, acima de tudo, missão integral não é uma estratégia ou técnica de evangelização ou, o que seria ainda mais nefasto, de estufamento de igrejas.

 
2.      Missão integral não é “ministério de ação social”.

É possível que este seja o mais comum e mais perigoso engano no que se refere à noção de missão integral: confundi-la com o ministério de ação social de uma igreja local ou uma denominação. Não estamos dizendo que as igrejas não devam ter tal ministério. Muito pelo contrário. Ministérios eclesiásticos ou para-eclesiásticos de ação social podem ser um importante instrumento para a concretização de alguns aspectos do que chamamos de missão integral. Entretanto, esses ministérios não implicam que haja missão integral enquanto construto teórico teológico. Não se pode inferir da presença destas agências que haja missão integral, ou que elas trabalhem sob a égide da missão integral. E pode, por outro lado, haver missão integral sem que haja ministérios e agências de ação social, que são, no geral, de caráter meramente assistencialista, e não percebem a necessidade de instituir instrumentos políticos que possam gerar mudanças estruturais na vida sócio-cultural e político-econômica da sociedade. 
 

3.      Missão integral não é uma “teoria missiológica”.

Então, em um nível mais profundo, alguém poderia supor, ao perceber que este construto teórico afeta diretamente as práticas eclesiais, que se trata de um construto teórico de teologia pastoral, e, mais especificamente, de missiologia. A missão integral seria, portanto, uma compreensão específica de como a igreja faz missão, ou, numa redação muito melhor, como a igreja cumpre a sua missão. Seria, portanto, uma tese missiológica, mais ou menos nas seguintes linhas: a igreja cristã tem a missão de pregar o evangelho, mas esta pregação não se faz apenas com palavras, mas com atos de amor que manifestem o amor de Deus pelas pessoas através de nós, através das ações das comunidades cristãs. É evidente que tal compreensão da noção de missão integral está bem mais próxima do adequado que as concepções equivocadas descritas acima. Percebemos, todavia, que ela também tem problemas teóricos, enquanto definição conceitual da endiadys “missão integral”. Em primeiro lugar, esta compreensão pode sugerir que a missão integral é uma teoria missiológica entre outras, que uma igreja ou um cristão pode escolher ou não como sendo a sua missiologia. Tal concepção da endiadys como mera teoria missiológica, portanto, coloca em risco a percepção de sua necessidade, no sentido filosófico do termo, para a presença do evangelho. Em outras palavras, ameaça tornar a noção de missão integral algo extrínseco ao evangelho, e não intrínseco ou essencial no evangelho. E tal minimização da noção é algo que a teologia da missão integral nunca tolerou nem pode tolerar. Em segundo lugar, torná-la meramente uma teoria de teologia pastoral põe em risco a centralidade do conceito na constituição do evangelho, e essa marginalização do conceito é também algo que a teologia da missão integral nunca tolerou nem pode tolerar.
 

4.      Missão integral não é “diaconia”.

Antes de mais nada, vamos esclarecer que o termo “diaconia” não está sendo aqui empregado como sinônimo de ministério de ação social da igreja local, ou com a idéia de uma “junta diaconal” na igreja local, ou coisas semelhantes. O termo está aqui sendo empregado para discernir algo que parece ser essencial no ensino de Cristo, que é servir. Confundir missão integral com ministério de ação social é banal e totalmente equivocado. Confundir missão integral com diaconia é bastante desculpável, pois o que proponho aqui é uma filigrana, uma distinção muito sutil realmente, que já nos lança para o âmbito da teologia bíblica e sistemática, e nos aproxima de nosso ponto de chegada, que é a relação entre missão integral e o próprio evangelho de Cristo. Esclareça-se agora, e desde já, que o evangelho de Cristo não é apenas o perdão de nossos pecados pelo sangue derramado na cruz. É, antes, nossa reconciliação com Deus pela união mística com Cristo. É a presença de Cristo em nós, a presença do Espírito Santo que é o Espírito de Cristo, que determina nossa redenção, nossa justificação e nossa santificação. A presença de Cristo em nós implica necessariamente em discipulado, sob o senhorio de Cristo. Portanto, implica em diaconia, isto é, em serviço, assumir a forma de servo que o próprio Jesus Cristo assumiu. A diaconia é, portanto, aspecto essencial do seguimento de Cristo. Quem está em Cristo, serve a Deus e ao semelhante. Sem dúvida que a prática diaconal de cada cristão no seu seguimento de Cristo parece indicar uma percepção maior ou menor, mais ou menos consciente daquilo a teologia da missão integral sugere acerca da natureza do evangelho, mas não é uma marca inquestionável de que a noção de missão integral tenha sido assimilada ou que, em outras palavras, a missão integral tenha sido adotada. É bem possível que um cristão pense na diaconia como um aspecto da vida cristã que nada tem a ver com missão.
 

5.      Missão integral não é outro nome para a “teologia da libertação”.

Muitos podem pensar que a teologia da missão integral é uma versão evangélica da teologia da libertação, cujos principais nomes são majoritariamente católico-romanos. Há, de fato, mitos pontos-de-encontro. Porém, há também pontos divergentes, e isso desde os fundamentos. Enquanto a teologia da libertação tem sido descrita por muitos como uma leitura marxista da Bíblia, e as evidências apontam para a propriedade desta percepção acerca do referencial teórico fundamental da teologia da libertação, o mesmo não se pode dizer da teologia da missão integral, que se propõe, talvez um tanto ingenuamente, como uma teologia que é produzida apenas a partir da Bíblia, sem utilizar nenhum outro referencial teórico como chave hermenêutica. Seja como for, o importante pressuposto por detrás desta comparação é que a teologia da missão integral é uma teologia, assim como a teologia da libertação. O que significa dizer isso? Significa que a teologia da missão integral é uma interpretação geral do que é o cristianismo, do que significa ser um cristão, uma interpretação sobre o significado do próprio evangelho.


IV. Vórtice Elucidativo
 

Então, perguntemos agora, ainda que tentativamente, “o que é missão integral”? Para responder a essa pergunta, temos que aglutinar alguns importantes componentes da equação, e o faremos por meio de um progressivo afunilamento teórico.

 
1.      Missão integral é uma teologia bíblica do evangelho.

Já dissemos que missão integral é uma teologia. Isso é elucidador, mas fica a pergunta: que tipo de teologia? Parece ser uma teologia bíblica, isto é, uma tentativa de configurar esquematicamente a instrução bíblica a partir da própria Bíblia em vez de partir dos loci communes da chamada teologia dogmática ou sistemática. Há, porém, muitos tipos de teologia bíblica, com diferentes ênfases. Parece-me que a teologia da missão integral é uma teologia bíblica que centra toda a reflexão teológica na definição da natureza intrínseca do próprio evangelho, e quero propor, mais construtivamente agora, que ela o vê como o cumprimento da grande comissão de Cristo à luz do Mandato Sócio-Cultural do Gênesis.
 

2.      Missão integral é uma interpretação da Grande Comissão à luz do Mandato Sócio-Cultural.

O Mandato Sócio-Cultural surge logo nos primeiros versículos da Bíblia, compondo as primeiras ordenanças de Deus ao homem na Criação. Ler a Grande Comissão de Mateus 28 à luz do Mandato Cultural é vê-lo como resgatado diante da redenção em Cristo em face da queda. Em outras palavras, no esquema Criação-Queda-Redenção, o Mandato Cultural é recuperado na redenção em Cristo pela chamada Grande Comissão.

O Mandato sócio-cultural de Gênesis nos aponta para o projeto de Deus para a espécie humana. O projeto não está explicitamente descrito, mas implícito naquilo que a narrativa bíblica apresenta na forma de comando divino. Ele inclui: (i) apoio à família e à educação; (ii) apoio à pesquisa científica e tecnológica; (iii) promoção da nutrição alimentar e, por inferência, de todas as necessidades básicas para a sobrevivência e saúde de todos, sem exceção de ninguém; (iv) descanso e lazer para todos, e, por inferência, trabalho para todos.

Por meio da redenção em Cristo, a sua igreja se torna novamente capaz de fazer valer o mandato sócio-cultural. Isto é ler a grande comissão como retomada do projeto divino para a humanidade. Isso é, para mim, a principal base para a teologia da missão integral.
 

3.      Missão integral é a Missão da Igreja e a Teologia que serve à Igreja.

A missão da igreja é sua razão de existir. Ela existe para cumprir sua missão, sem a qual ela não tem sentido algum. Creio que a teologia da missão integral reconhece isso e propõe que é preciso compreender a missão da igreja em sua inteireza. Mais que isso, implica também que a teologia da igreja só faz sentido se feita à luz da missão da igreja, auxiliando-a no cumprimento da mesma. Se não é assim, é teologia que se impõe sobre a igreja, e que obriga a igreja a servi-la em vez de servir a igreja. É teologia que atrapalha a igreja no cumprimento de sua missão. Toda teologia que se preze, creio eu, deve ser feita a partir de dois motores: o estudo da Bíblia e a missão da igreja.

Alguns dizem que a missão da igreja é adorar a Deus. Paulo ensina, em Romanos 12, que o verdadeiro culto a Deus é oferecer-se em sacrifício vivo, o que implica em algo mais que a adoração e o louvor na compreensão popular dos conceitos. Alguns dizem, em contrapartida, que a missão da igreja é evangelizar o mundo. De fato, mas aqui cabe perguntar o que isso significa. Seria apenas levar os homens a se decidirem por Cristo? A se tornarem membros de igrejas evangélicas? Ou seria a difusão do Reino de Deus? Ou seria ainda mais, a infusão dos valores do reino na cultura e na sociedade?
 

4.      Missão integral é o próprio evangelho.

Missão integral é, talvez, outro nome que se pode dar ao próprio evangelho, como um cognome, ou um aposto. Como aposto, poderíamos dizer, por exemplo: “o evangelho de Cristo, isto é, a missão integral da igreja, deve ser o centro da pregação cristã”, e assim por diante.

Evangelho, como todos sabem, significa “as Boas Novas da salvação em Cristo”. Eu quero crer que é isso também que significa a missão integral. Se não fazemos essa identificação, talvez seja porque limitamos, por vício, o escopo do significado do Evangelho. Salvação em Cristo significa união mística com Cristo: Cristo em nós, operando nossa justificação e nossa santificação. Cristo em nós implica em uma transformação espiritual sendo operada; implica na imitação de Cristo; em outras palavras implica em discipulado. Na verdade, creio que é preciso afirmar que não há salvação sem a presença do Espírito de Cristo em nós, e, portanto, sem obediência, sem esvaziamento, sem tomarmos a forma de servo que Cristo tomou. Em suma, não há redenção em Cristo sem seguimento, sem discipulado, porque não há evangelho sem discipulado. Seguir a Cristo e servir a Cristo significa um engajamento naquilo que chamamos de missão integral.

Então, não há outro evangelho, a não ser este: a adoção e a participação na missão que só pode ser integral. Em hipótese alguma uma missão parcial ou fragmentária poderá ser chamada de evangelho. Não há missão parcial. E aqui está a grande falácia por detrás desta expressão, desta endiadys: missão integral, pois falar em missão integral pode fazer presumir que há outra missão cristã ou evangélica que seja também válida, e que nãos seja integral, quando na verdade só há uma missão em Cristo: aquela que inclui a integralidade daquilo que o Evangelho representa.

O problema é que isso coloca todos os adeptos da teologia da missão integral em franca e direta oposição à larga e vasta maioria das igrejas evangélicas e do mundo evangélico, que jamais compreendeu e jamais aceitou a teologia da missão integral, que certamente não entende a missão da igreja dessa forma, mas antes pregando e praticando aquilo que os adeptos da missão integral seriam obrigados a chamar de “missão parcial”.

Só a aceitaram os chamados “evangelicais”, um adjetivo que se usa, em oposição a “evangélico”, para designar um grupo de evangélicos de difícil localização. Uma palavra que é um anglicismo, tradução do inglês “evangelical” que, na verdade, quer dizer “evangélico”, e não “evangelical”. O adjetivo “evangelical” tende a cair no vazio. Quem são os evangelicais, além dos participantes da FTL?

Mas acontece que, se não há missão parcial, isso tem sérias conseqüências para quem advoga a missão integral. Assim como uma meia-verdade é, em geral, uma mentira inteira, também a noção de uma missão parcial é um equívoco. Missão parcial simplesmente não é a missão cristã, pelo contrário, é uma distorção perigosa da missão, uma distorção alienante, aviltante e opressora. Não é a verdadeira missão do corpo místico de Cristo, a Igreja Invisível, que é sempre missão integral, uma vez que essa é a única genuína missão neotestamentária. Uma missão distorcida não só não é missão de Cristo, mas presta desserviço a Cristo, pois é missão feita em nome de Cristo sem ser de Cristo. Isso a caracteriza, a partir de uma perspectiva neotestamentária, como missão do anticristo. Toda igreja que se diz cristã, mas rejeita, não por ignorância, mas conscientemente, a teologia da missão integral, está, ipso facto, sub judice, como candidata a igreja do anticristo.
 

V. Palavras Finais

Alguém poderá dizer, agora que desembarcamos no porto final desta caminhada teórica que compõe esta comunicação, que as conclusões a que chegamos são apenas óbvias. Diante desta observação crítica, tudo que tenho a dizer é que concordo inteiramente. Assim já dizia Caetano Veloso que seriam óbvias as palavras que o índio proferiria em um ponto eqüidistante entre atlântico e o pacífico. E que surpreenderiam por ser óbvias, pois o óbvio é bom, é claro e é verdadeiro. É precisamente da obviedade que carecemos, mas não da obviedade tautológica ou repetitiva, a platitude que não passa de um lugar comum. O que se pretendeu foi dizer o óbvio que esclarece, que desobnubila, que desobstaculiza, que ilumina e que tranqüiliza o coração. Não proponho, porém, sequer que este trabalho específico de limpar o terreno para futuras edificações esteja completo. Esclareço ainda além, portanto, que este texto pretendeu apenas iniciar uma reflexão que deve continuar em conjunto agora, num espírito fraterno e elucidativo.

MISSÃO INTEGRAL: UM CONVITE À REFLEXÃO PARTE 2


Dando sequência ao Artigo de Missão Integral: Um Convite à Reflexão escrito por Ricardo Quadros Gouvêa   publicado no Site da FTL.

PARTE 2


2.      Evangelho e Política

Há quem diga abertamente que o Evangelho nada tem a ver com política. Há quem deplore que se discuta o que se chama vulgarmente de “questões políticas” na igreja. Quando vemos o péssimo exemplo dos políticos evangélicos, até entendemos a razão desse tipo de ojeriza à política. Mas, em geral, é fruto de uma pregação evangélica distorcida que aliena as pessoas, fazendo-as pensar que as questões políticas e sociais nada têm a ver com espiritualidade.

A relação entre cristianismo e política não deve ser confundida com a relação entre igreja e estado. A separação entre igreja e estado foi uma preciosa conquista da democracia. Ela garante a liberdade de culto e garante que, na ausência de uma religião oficial do estado, nenhuma instituição religiosa será privilegiada pelas leis do país. Isso nada tem a ver, no entanto, com a relação entre cristianismo e política. O verdadeiro cristianismo, me parece, está envolvido nas questões sócio-políticas até o pescoço. Ou talvez deveríamos dizer: até a cabeça, que é Cristo.

Sabemos que a Bíblia e o Evangelho nos convidam a um sério engajamento com os problemas sociais, econômicos e políticos. O quietismo supostamente presente em Romanos 13 empalidece ante as inúmeras passagens bíblicas nos convidando à denúncia e ao combate das injustiças sociais e os desmandos políticos. Os estudos contemporâneos sobre os tempos de Jesus e sobre sua pessoa e ministério, como os de Marcus Borg, John Crossan, Richard Horsley, e N. T. Wright, entre outros, tornam patente o fundamental elemento sócio-político de sua missão.

Isso nos convida a entender o que é a ação política que tem lugar no contexto do Evangelho. Não estamos falando de política partidária, que visa a obtenção e manutenção do poder. A ação cristã na política partidária é, em geral, fisiológica e clientelista, em benefício de igrejas, inclusive, e é, em suma, má política e mau cristianismo. Estamos falando de cidadania e consciência política do cidadão que leva a envolver-se nas questões sócio-políticas que o afetam diretamente, e particularmente a formulação e promulgação de leis que o beneficiam ou não, enquanto cidadão.

Esse é o problema da ação social assistencialista, que é o que os evangélicos praticam, em geral, e que às vezes se confunde com Missão Integral e com consciência cidadã e sócio-política, quando não é. O assistencialismo não resolve os problemas sociais e políticos porque não atinge o cerne das questões, não desce às estruturas, não ameaça os poderosos. Pelo contrário, o assistencialismo se encaixa perfeitamente no modelo dos poderes opressores de uma sociedade. Por isso, as igrejas não são combatidas, porque não ameaçam esses poderes políticos e econômicos. Se o fizesse, seria perseguida.

O que seria, então, uma igreja engajada numa luta pela cidadania e pela conscientização sócio-política? Seria uma igreja que estimulasse os seus membros a protestar, por meios legítimos e não-violentos, como passeatas e abaixo-assinados, reivindicar ante as autoridades, e, por fim, exigir leis mais justas e ação governamental voltada para a melhoria das condições de vida dos menos favorecidos. Não é isso que acontece nas igrejas evangélicas.

Eu tendo a pensar que o que a FTL entende por Missão Integral implica em uma restauração da integralidade do Evangelho de Cristo, hoje obliterado nas igrejas evangélicas, por meio de uma compreensão da relação tensa e paradoxal entre Evangelho e Cultura que nos desafia com o poder de Cristo para a transformação da cultura, e por meio de uma compreensão da relação entre Evangelho e Política que nos faça perceber as dimensões políticas e sócio-econômicas da pregação de Cristo.
 
Leia a terceira e última postagem de desse artigo.

MISSÃO INTEGRAL: UM CONVITE À REFLEXÃO


Quero compartilhar nas três próximas postagens o artigo de excelência escrito por Ricardo Quadros Gouvêa   no Site da FTL Brasil.

Missão Integral é um assunto que gosto de pesquisar devido sua importância para a Igreja do Senhor.




Parte 1.


I. Palavras Introdutórias


Muito já se escreveu sobre missão integral. Os livros recentemente lançados sobre o assunto, o de René Padilla e o de Ricardo Gondim, perfazem juntos uma boa síntese do que se entendeu teologicamente até hoje por missão integral e os problemas desse construto teórico, bem como de sua aplicabilidade na vida das igrejas evangélicas e dos movimentos evangélico e/ou evangelical.



Teremos em breve encontros em que debateremos estas obras com seus autores. Sendo assim, o que propomos para hoje? Proponho um exercício de reflexão teológica conjunta a partir de um texto que servirá meramente como ponto-de-partida, que não se pretende original ou inovador, mas sim esclarecedor.



Não sei, entretanto, se eu entendo bem o que quer dizer “missão integral” ou o que é a “teologia da missão integral”. Vejo discursos e práticas desalinhadas sob esse mesmo rótulo, e fico com a sensação de que há desinformação e dissonância cognitiva, o que pode e deve ser resolvido, além de uma salutar discordância e variação nuançada, o que é positivo, mas convida ao diálogo.



Este texto busca, portanto, ainda que modestamente, auxiliar na caminhada em direção a uma resposta acerca do significado do construto teórico teológico “missão integral”, tão importante na história da Fraternidade Teológica Latino-Americana.



Estou convencido que há dois estudos propedêuticos que se fazem necessários antes que exploremos o conceito de missão integral propriamente, tentando uma aproximação mais acurada de definição ou de identificação. Passo agora, portanto, a essas duas excursões breves em teologia filosófica ou teologia cultural ou ainda teologia apologética, como se dizia antigamente. Estas duas excursões lidam com as relações entre evangelho e cultura, primeiro e, depois, entre evangelho e política.



II. Evangelho, Cultura e Política: Duas Excursões Teóricas




1.      Evangelho e Cultura



Esta sempre foi uma relação de grande tensão na história do cristianismo. Hoje compreendemos que não poderia deixar de ser. Evangelho e cultura se distinguem, mas não é fácil distingui-los. O Evangelho não existe a não ser enculturado, isto é, contextualizado. Há quem queira separar o Evangelho da cultura, mas isso nunca existiu, e não pode ser feito. É da natureza do Evangelho ser cultural. O Evangelho já nasce inserido numa cultura, a cultura judaica, mas não se confunde com ela. Esta é a tensão infinitamente elástica que nos causa tantos transtornos: o Evangelho não é a cultura, nem mesmo a cultura judaica, mas só existe imiscuído e misturado com a cultura, de tal forma que não é possível extraí-lo e limpá-lo da cultura sem causar dano à natureza intrínseca do Evangelho e também à cultura. Se tentarmos distinguir cultura de Evangelho, fica um pouco de cultura, perde-se um pouco de Evangelho, e não se obtém um bom resultado.



A primeira transposição cultural sofrida pelo Evangelho foi para a cultura helenista dos tempos da chamada igreja primitiva. Essa transposição foi feita com razoável sucesso, mas não sem fortes traumas. É uma transposição que começa com Paulo, e é, portanto, sancionada pelo próprio Evangelho, pelas Escrituras Sagradas. Mas o Novo Testamento também já dá testemunho dos traumas e aflições causados pela transposição. O relativo sucesso do empreendimento deve nos fazer perceber as tremendas transformações sofridas pelo Evangelho no mundo helenista, e, em particular, a leitura de tendências neoplatônicas e semi-gnósticas que acabaram por preponderar no período patrístico, e acabaram por servir de base para a construção da teologia.



Uma segunda transposição acontece no período medieval, e posteriormente no período moderno, e sempre sofreu o Evangelho transformações, assim como transformou as culturas. Com o surgimento das nações-estado modernas, e com o crescimento econômico e populacional advindo das revoluções científica e industrial, surge um grande número de culturas ocidentais distintas promovendo novas tensões com o Evangelho herdado, e o trabalho missionário leva o Evangelho para culturas não-européias, que iriam absorver o evangelho misturado à cultura dos próprios missionários.



Os missionários das igrejas protestantes históricas trouxeram ao Brasil um Evangelho marcado pelos traços culturais de onde eles haviam partido. Foi só no século XX que a relação Evangelho e cultura passou a ser mais estudada e compreendida. Começou-se a perceber a enorme complexidade do processo enculturação do Evangelho, e se começou a falr, no fim do século XX, em contextualização.



O grande cientista da religião Helmut Richard Niebuhr, irmão do célebre teólogo Reinhold Niebuhr, foi um dos pioneiros nesse estudo, com o clássico Cristo e Cultura, onde distingue cinco diferentes possibilidades compreensão do relacionamento entre Evangelho e Cultura, que ele denomina: (i) Cristo contra a cultura; (ii) Cristo da Cultura; (iii) Cristo acima da cultura; (iv) Cristo e Cultura em Paradoxo; e (v) Cristo transformador da cultura. Niebuhr nos mostra como todos os cinco “tipos” (“tipos ideais”, como ele diz) foram praticados e implicitamente ensinados através dos tempos. No entanto, sugere que os primeiros dois são enganosos, distorções, o primeiro pela rejeição da cultura, e o segundo pela sua adoção não criteriosa ou sem qualificações necessárias. Eles representariam, grosso modo, os pólos fundamentalista e liberal. Os três outros tipos estariam, segundo o autor, mais de acordo com aquilo que o Novo Testamento propõe, o terceiro representando a posição tomista, o quarto a posição existencial-dialética, e o quinto a visão mais comum na teologia contemporânea.



Ao que me parece, a teologia da missão integral se propõe partidária, acima de tudo, da quinta possibilidade, de ver Cristo como transformador da cultura, sem negar a importância e o valor da cultura, como no caso principalmente do primeiro tipo niebuhriano, mas também do terceiro, típico do mundo evangélico conservador (que é em grande grau tomista sem saber disso). Trata-se, portanto, de trazer o Evangelho à cultura para redimi-la, não para alterá-la. Isso está de acordo com o que dissemos a princípio: o Evangelho só é verdadeiramente o Evangelho quando está enculturado, inserido na cultura e contextualizado, e só assim não é distorção.



Em suma, Cristo é mais, muito mais do que normalmente pensamos. Cristo significa uma vida melhor não só para o indivíduo, mas para a nação. O Evangelho propõe um mundo melhor, e nos convida a promover esta integração do Evangelho às culturas humanas em particular, e aos nossos projetos de civilização. Qualquer outra possibilidade é uma distorção alienante que retira do Evangelho seu escopo e seu poder transformador.

Leia a próxima postagem.


sábado, 27 de julho de 2013

MISSÃO INTEGRAL: A MISSÃO DE DEUS PARA A IGREJA




BUSCANDO UMA DEFINIÇÃO

O tema Missão Integral é por demais amplo, no qual missiólogos e teólogos encontram várias definições. Numa tentativa de buscar uma resposta sobe este importante tema, concordo com o pensamento de Ariovaldo Ramos quando cita  Ziel Machado afirmando que missão integral, é uma proposta missiológica a partir de uma perspectiva do Reino de Deus. Por esta definição, compreende-se que a proposta da Missão Integral, está profundamente relacionada à anunciação de um novo Reino que é inaugurado com a chegada do Messias que por sua vez, nos chama para uma missão em que somos desafiados a encarnar os valores deste Reino ensinados e praticados por Jesus. 

Como veremos mais adiante, a proposta da missão integral não está limitada apenas a prática de assistência social realizada em algumas das comunidades evangélicas, também não é uma ideologia com fundamentos humanistas ou uma variante da teologia da libertação, como também não é uma bandeira que favorece única e exclusivamente os pobres ou muito menos uma estratégia evangelística. Mas a missão integral aponta para uma restauração da criação de forma integral (ver Gn.3). Isso implica em não apenas pregar o evangelho em palavras, mas deve haver uma disposição da igreja no exercício de ações comunitárias em benefício da sociedade e transformações nas estruturas políticas, sociais e econômicas. Portanto, missão integral é uma proposta missiológica que tem como alvo encarnar os valores do Reino de Deus. Logo, estes devem ser vivenciados pela Igreja do Senhor Jesus, a agenciadora deste Reino aqui na terra.

Deus através da Pessoa do Filho encarnado aproxima-se da criação como a expressão total e completa da missão do Pai. Jesus Cristo em seu ministério terreno anuncia as boas novas do Reino, prioriza a mensagem do evangelho aos pobres, cura os enfermos, assiste os necessitados, liberta os cativos, alimenta os famintos, quebra as barreiras religiosas, geográficas, econômicas e culturais. Em fim, Jesus em sua missão, é a revelação do grande amor de Deus pela criação de forma perfeita, total e completa.

AS BOAS NOTÍCIAS DO NOVO REINO

A chegada do novo Reino traz consigo novas e boas notícias. A primeira é que este Reino tem suas portas abertas para todos que queiram ver e entrar nele. Todos são chamados para fazer parte do Novo Reino. A experiência do novo nascimento, (pois quem não nascer da água e do Espírito pode ver e entrar nele Jo. 3.1-15), abre a porta para uma nova experiência de vida com o criador. No Reino, é anunciada a chegada uma nova perspectiva na busca de uma espiritualidade centrada na pessoa de Jesus de Nazaré. A chamada é para uma nova maneira de viver, adorar e se relacionar com o Rei.

Neste novo Reino, não há acepção de pessoas. Todos tem livre acesso ao palácio. No Reino, quem entra não são apenas os da corte, mas os plebeus são considerados bem vindos, não há subordinados e comandantes pois aquele que quiser ser o maior, antes seja o menor com disposição para servir ao outro (Mc.9.33-37; Mt.18.1-5; Lc.9.46-48). O Reino de Deus não prioriza os religiosos, pois estes querem status, poder para dominar e posição privilegiada entre o povo. O Reino é de todos e para todos. Para ter acesso a sala do trono Real não é preciso marcar audiência, pois o Rei Jesus exerce o reinado da convivência entre os mais desfavorecidos, é o Rei habitando em nós (Ef. 2.22; 3.17; Tg. 4.5;), e os que amam a Deus poderão habitar nele (Jo.14.23). Não é um reinado transcendente, mas pessoal onde Jesus de Nazaré se faz presente e agente na história humana.   

O Rei dos reis nasceu entre os pobres e viveu entre eles. Em sua entrada triunfal em Jerusalém encontramos um cenário marcado pela simplicidade. Sua chegada como Rei acontece de maneira simples. Montado em um jumentinho emprestado, em meio a esta cena, a multidão o recebe também de maneira simples, estendendo suas vestes e ramos que haviam cortado dos campos (Mc.11.1-11; Mt.21.1-17; Lc.19.28-40; Jo.12.12-19). A chegada de Jesus de Nazaré como Rei de Jerusalém faz um contraste com as cerimônias realizadas em impérios terrenos que quase sempre são marcadas pela vaidade e grandeza de suas liturgias.   
Em Jesus é chegado o novo Reino. É anunciada a salvação eterna na pessoa do Cristo, um Reino de paz, justiça, alegria no Espírito Santo, obras de Justiça, misericórdia, perdão, ausência do eu, caridade, fé, missão, um reino onde não há superiores, pois todos estão debaixo da soberania do Rei que em sua humanidade não julgou com usurpação, aceitou a humilhação, esvaziando-se de si mesmo assumindo a forma de servo, e não quis ser igual a Deus, expressando em sua maneira de viver a prática da humildade, do perdão, da misericórdia, do servir, em tudo, sendo submisso fazendo a vontade do pai até a morte no calvário (Fp. 2.5-11; Jo. 6.38-40). No sacrifício vicário de Cristo, todos podem por meio do novo nascimento entrar e ver o Reino e assim fazer parte dele (Jo. 3.1-15). 

A segunda boa notícia é que “o Reino de Deus não faz escravos, não faz prisioneiros, o Reino de Deus só liberta”. (Ariovaldo Ramos). Ao contrário dos reinados terrenos da época que aprisionavam seus adversários que eram vencidos na guerra, tornando-os escravos, no Reino de Deus é proclamada a todos os povos a mensagem de libertação.

Libertação do sistema religioso. Na proposta do Reino anunciada por Jesus, todos que entrarem no Reino, são libertos dos grilhões do sistema religioso. Disse Jesus: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre voz o meu Jugo e apendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (Mt. 11.28-30).

Em outras palavras, Venham todos vocês que estão acorrentados, pelo sistema religioso dos Fariseus hipócritas que vos oprime, impondo leis que nem mesmo eles conseguem cumprir. Venham! Este Reino traz salvação e liberdade. Esta é mais uma das boas notícias do Reino. Salvação aos cativos e oprimidos pelo sistema religioso. Jesus chama seus súditos a aprender do Rei que não escraviza e não tortura os que estão sobre seu domínio, mas traz boas novas de libertação, de vida, de um relacionamento amoroso e paternal com o criador.
Todos são chamados a aprender do mestre a prática do exercício da mansidão e da humildade. No Reino, a obrigatoriedade da lei, e suas minúcias, são substituídas pelo ensinamento de Jesus de Nazaré focados numa espiritualidade de relação pessoal com Deus e o interior humano, e não mais na estética onde no sistema religioso, a espiritualidade é medida pala aparência. Em Jesus, o discípulo é liberto dos preceitos do legalismo que por sua vez traz vida, pois a letra mata, mas o Espírito vivifica (Rm. 2.29; 7.6; 2 Co.3.6;).

A suavidade do Jugo e a leveza do Fardo proposto por Jesus revela seu amor na missão. Como expressão maior do autor da missão (Deus), Jesus acolhe a todos que estão sufocados, sobrecarregados e oprimidos pelo sistema religioso. Na missão de Deus, as portas do calabouço religioso são abertas para trazer liberdade aos cativos e assim desfrutarem das bênçãos do Evangelho do Reino.

Livres das algemas da religiosidade  para serem escravos do amor de Deus em Cristo Jesus (1Co.7.22). Agora libertos, encontramos verdadeira liberdade, que por sua vez gera em nosso coração  uma atitude de verdadeiro arrependimento manifestando a presença do Espírito Santo, pois sua atuação é também sinal de libertação (2.Co.3.17; Gl.5.13). No Reino, a cortina de fumaça criada pelo sistema religioso que encobre a maravilhosa graça na missão de Deus, é retirada pela anunciação das boas novas do Evangelho, trazendo assim visualização para aqueles que têm livre acesso a ele.       

Então, o Reino também anuncia a todos a palavra da liberdade em Cristo Jesus. A liberdade de conhecer Deus, submetendo-se ao seu poder e autoridade, e com ele cooperar na missão, transpondo os limites e barreiras que a religião criou no que se refere à relação Deus e criatura, conhecer sua vontade e seu projeto de restauração para a criação, envolver-se na integralidade da missão, amar a criação e o criador, é a Igreja interagindo na missão integral de Deus.

Libertos dos grilhões do pecado e da morte. O evangelho do Reino traz também poder libertador para os cativos em prisões de sua própria natureza pecaminosa. Em Cristo Jesus, encontramos a liberdade por intermédio do poder transformador do evangelho. Disse Jesus:“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo. 8.36). Eis outra grande notícia. O evangelho de Cristo que transforma, liberta, cura, acolhe, perdoa, um novo Reino que traz consigo uma proposta de nova vida para aqueles que entrarem nele. Agora somos livres para amar, servir, perdoar, compartilhar, acolher, isto é encarnar os valores do Reino pregado e vivido por Cristo.

Uma vida liberta reflete a imagem e caráter de Jesus. Ser verdadeiramente livre nos desafia a viver não para nós, mas para o outro, nisto, o discípulo pode ser chamado de bem aventurado. Feliz é o discípulo que goza da liberdade para ser humilde de espírito, pacificador, manso, intercessor, faminto por justiça, misericordioso, limpo de coração e sofredor nas perseguições por causa do evangelho do Reino. Feliz é aquele que abre mão dos seus próprios interesses em benefício do próximo, para que possa assim deleitar-se e viver esta liberdade em Cristo Jesus.

Agora libertos do pecado, no sentido de não ser mais escravo dele, passamos a servir a Cristo Jesus.

Gill comenta:

Agora os eleitos de Deus não são liberados voluntariamente por seus antigos mestres, nem é a sua liberdade obtida por seu próprio poder e vontade, mas é de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo; e o Evangelho é geralmente o meio dela, e felizes são as pessoas que são abençoados com ele! São livres de um mestre ruim; são liberados do pior da servidão; haverá mais servos, como antes, são entregues a partir do poder, e fora do reino das trevas; são herdeiros do céu, e beneficiam da liberdade da glória dos filhos de Deus, e para o presente momento tornar-se servos da justiça; servos de Deus, cujo Evangelho obedecem; servos de Cristo, cuja justiça se submetem a, e servos para a lei de justiça, como manifestado por Cristo e dão-se a si mesmos em um curso e vida de retidão , em que há verdadeira honra, paz e prazer”.(Fonte: http://biblecommenter.com/romans/6-18.htm).
Esta liberdade nos torna servos do Cristo. Não servimos mais ao pecado que outrora estávamos encarcerados nele, mas de boa vontade devemos aceitar o convite do mestre para servir em seu Reino com ações voluntárias, livres de qualquer opressão, descontentamento, domínio e práticas que exteriorizam em extremo nossa maneira de servir, pois servir sem liberdade é sinal de aprisionamento.

A terceira é que o Reino de Deus é manifesto pela prática da justiça.
“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”. (Mt. 5.6). Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça porque deles é o Reino dos céus. Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra voz. “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram os profetas que viveram antes de voz”. (Mt.5. 10-12).

A prática da justiça sempre esteve marcada na história do povo Hebreu e da igreja cristã. Observa-se a impressionante declaração do Salmista denunciando as autoridades da época quanto à questão das injustiças aos mais desfavorecidos pedindo justiça por eles.

“Falai verdadeiramente justiça ó juízes? Jugai com retidão os filhos dos homens? Longe disso; antes no intimo engendrais iniquidades e distribuis na terra a violência de vossas mãos.” (Sl.58.1-2).

Esta denuncia feita pelo salmista é direcionada não apenas aos juízes, mas também aos pastores, profetas e sacerdotes que usavam da autoridade para benefício próprio, desprezando os mais desfavorecidos.

Mais adiante, Salomão faz uma exortação quanto à necessidade de não se calar diante das injustiças cometidas aos pobres.

“Abre a boca, julga retamente e faz justiça aos pobres e necessitados” (Pv.31.9).
Silenciar diante das injustiças para com os mais desfavorecidos pode ser uma maneira de demonstrar nossa timidez ou covardia diante da verdade e justiça de Deus para com a criação.    

Davi e Salomão foram Reis que direcionados por Deus, de alguma maneira se preocuparam com a questão da justiça aos necessitados.    
A prática da justiça foi incansavelmente pronunciada não somente por reis, mas também pelos profetas do AT, que levaram como uma das marcas registradas de profetas de Deus, denunciar as injustiças sociais, econômicas e políticas da época. Vejamos ,este relato do ministério do profeta Elias.

São nos capítulos 18 e 19 do livro de 1Reis que encontramos o relato da vocação do profeta Elias como denunciador das injustiças. O profeta sem meias palavras denuncia a falta de fidelidade do povo de Israel. Ele lança um desafio ao povo dizendo que eles deveriam tomar uma posição a cerca de quem eles deveriam seguir.  Deus ou baal. Elias se depara com o silencio do povo (1Rs.18.21). A atitude do profeta em lançar o desafio ao povo para escolher que deveria seguir, revela a situação do contexto em que o profeta Elias se encontrava. Certamente não havia discernimento o bastante da parte do povo para ver o quanto Deus odeia a injustiça. Isto levava o povo a uma confusão quanto as suas convicções no tocante a quem eles deveriam servir. Neste contexto, tanto o povo quanto as autoridades não demostravam senso de justiça.

Percebe-se o grande desafio do profeta diante de um momento crítico do reinado de Israel. O casamento de Acabe com Jesabel trouxe sérios problemas para a nação. A matança de profetas, a incredulidade do povo e as injustiças sociais eram problemas desafiadores para um profeta, que tinha como missão, ser o porta voz de Deus de maneira direta ao povo. Dentro de sua vocação, o profeta é desafiado a transmitir uma palavra profética ao povo e lideranças da época, no qual deveria levá-los ao arrependimento. Desafio semelhante ao do profeta João Batista no NT, onde o contexto era bastante semelhante ao do tempo do profeta Elias.

Semelhantemente estas experiências aconteceram com Ageu, Jeremias, Malaquias, Eliseu e outros Profetas que sofreram e foram perseguidos por causa da Justiça. Observe as palavras de incentivo de Jesus aos seus discípulos em Mt. 5.12 sobre a missão da prática da justiça.
Com a chegada do Reino, a anunciação e a prática da justiça é manifesta aos homens apontando Jesus como a revelação da perfeita justiça no qual desafia seus seguidores a ter fome e sede por ela. (Mt.5.6). Logo, a justiça de Deus toma dimensões alargadas trazendo salvação e libertação que por sua vez leva o discípulo a ter fome e sede de justiça. O discípulo uma vez alcançado pela justiça divina deverá exercer a pratica desta para com o próximo. É bem provável que Jesus está estimulando seus discípulos por meio do ensino teórico e prático, o exercício da justiça para com os mais desfavorecidos visto que ele mesmo viveu esta prática em seu estilo de vida. Os discípulos Deveriam praticar o ensino de Jesus sobre economia, prestar solidariedade aos necessitados, não se conformar com as injustiças praticadas pelas autoridades da época e se esforçar na prática do bem (At.2.44-45; 6.1-7; Rm.2.7; 15.26; 1Co.16.1-2; Tg.2.14-26;).   

O apostolo Paulo escrevendo aos irmãos da igreja de Roma, adverte-os a não se conformarem com a corrupção deste mundo, mas desafia-os a tomar uma postura diferente (Rm.12.2). Agora dotados da mente de Cristo (1 Co.2.16), deveriam denunciar as injustiças que estavam impregnadas nas estruturas políticas, religiosas, culturais e sociais e econômicas  da época. Então, evidencia-se na vida dos discípulos uma profunda identificação com Cristo ,e os profetas do AT. Não é difícil observar que o incentivo de Jesus feito aos seus discípulos no sermão do monte quanto à questão da perseguição por causa da justiça, se evidencia na fala e na vida dos apóstolos (Mt.5.11-12; Rm.12.2;1 Co.2.16;At.2.44-45).

O ministério de Jesus foi marcado também por sua preocupação com os pobres. A eles, é anunciado as boas novas de salvação (Mt.11.5; Lc.7.22). No ministério de Jesus ele pregou para ricos, comerciantes, cobradores de impostos, políticos e religiosos. No entanto, destaca-se a prioridade para com os pobres. Jesus foi ungido para pregar o evangelho aos pobres (Lc. 4.18), ensina a disposição de compartilhar bens com os pobres, liberta os indivíduos do sistema religioso como também ensinou que o compartilhar é um pré-requisito para ser discípulo (Mt.19.21; Mc.10.21; Lc.18.22). Pela graça se fez pobre por amor aos discípulos, para que pudessem ser beneficiados com as riquezas celestiais (2 Co.8.9), aprova a atitude daqueles que se compadecem dos pobres (Lc.19.8), desafia seus seguidores a renunciar tudo quanto tem e partilhar para serem seus discípulos (Lc.14.33).

Em seu ministério, Jesus quebra barreiras sociais. O contexto da época foi marcado pela injustiça para com os pobres e domínio do império romano. Com a chegada do Reino, nasce uma nova esperança para aqueles que não têm a ninguém para recorrer se não a Deus.
Vanderlei Gianastacio cita Richard Horsley que diz: “É num contexto social de imperialismo romano que Jesus apresenta a sua mensagem. Proclamava a presença ou a iminência do reino de Deus, por meio da sua prática, bem como fazia curas, exorcismos, alimentação das massas e apresentação de valores relacionados com a aliança. Não era algo tão simples para Jesus, pois a Galileia, onde o Senhor vivia e cumpria sua missão, era dominada pelos exércitos romanos que tinham invadido ali décadas antes. As crianças de alguns anos anteriores ao nascimento de Cristo ficaram traumatizadas com a brutalidade da invasão, pois aldeias foram queimadas, regiões foram invadidas, as pessoas sadias foram escravizadas e os incapazes, eliminados” (HORSLEY, 2002, p. 21).

Esta é uma forte razão para crermos que a missão de Deus é integral. O contexto social da época de Jesus aponta para a injustiça cometida por parte das autoridades, o Reino de Deus surge também como um alívio aos cansados e massacrados pelo terrorismo escravizador do império romano.

Para eliminar o mal entendido quanto à questão da missão integral, Deus tem sempre como prioridade a salvação eterna do homem pela sua maravilhosa graça (Ef.2.8-10), acredito que para que haja transformações na sociedade é preciso corações transformados, e como sabemos somente a graça de Deus tem poder para isto. A missão integral no tocante ao homem é salvar o espírito e cuidar do corpo, estendendo-se em sua abrangência almejando restaurar os sistemas políticos, sociais, econômicos e religiosos, restaurar o que foi prejudicado pela queda no Éden. Os do Reino não podem se conformar com este mundo, mas tem a missão transformá-lo pela nova consciência que receberam em Cristo Jesus (Rm. 12.2).

Não pode haver dicotomia entre responsabilidade social e evangelização. Carlos Queiroz faz uma citação de John Stott em seu artigo evangelização e conflito com a teologia do evangelho social que diz:     

“A ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro. (...). Tanto a evangelização pessoal quanto o serviço pessoal são expressões da nossa compaixão. Ambos são formas de testemunhar de Jesus Cristo, e ambos deveriam surgir de reações sensíveis às necessidades humanas” (STOTT; 1983: p. 21 e 39).
Como veremos mais adiante, o proposito da missão para a igreja é amar a Deus e sua criação, amar a criatura e o criador, proclamar o evangelho, acolher o necessitado, não se calar diante das injustiças, é cumprir a missão de Deus tendo como modelo a pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Russel P. Shedd em seu livro a justiça Social e a Interpretação da Bíblia faz importantes considerações sobre a questão das opressões sobre os Hebreus pobres e desfavorecidos daquela época. Vejamos:

“Deus é proprietário absoluto e original das terras (Sl 24.1; 50.12; Dt. 10.14), portanto, o titulo de propriedade para qualquer parte dela não concede direitos totais de posse aos proprietários humanos. Desde que os Hebreus pertenciam a uma sociedade agrária, a restauração das terras alienadas dos primeiros donos eram uma clausula importante na legislação divina. “Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha...” (Lv.25.23). A tendência humana natural de adquirir mais e mais terra, criando um monopólio não deveria ser permitida. Em lugar de fracos e pobres serem forçados à escravidão, em épocas de dificuldades, seja de fome ou de tragédia pessoal, (como no caso de Noemi, Rt.1.1; 4.1-11), eles podiam começar de novo. Do mesmo modo, os escravos israelitas (reduzidos a servidão em tempos de crise e incapacitados de pagar uma dívida) deveria ser libertado em intervalos de sete anos pré-estabelecidos (Dt.5.12). As mulheres também tinham seus direitos protegidos por lei. Os que cometiam assassinatos não-premeditado podiam encontrar proteção permanente contra o vingador do sangue mudando-se para uma das cidades de refugio providas em lugares convenientes na terra”.(SHEDD; 1984, p. 08).

Sobre a questão da prática da justiça Shedd diz:

“Uma vez que Deus odeia a opressão, ele quebrou as algemas da servidão de Israel (Ex.23.10; Dt.15.15). Por ser o doador da prosperidade, e distribuidor da riqueza, Deus exige que sua generosidade seja reconhecida com gratidão e louvor (Dt.8.11-20), acompanhada de um compromisso com a justiça. Deus é Deus de misericórdia, portanto exigiu o cancelamento das dívidas e empréstimos em tempos determinados (Dt.15.1-6), e mostra, então, o modelo desejado para ser seguido pela nação em que é reconhecido”.  (SHEDD; 1984, P.09).

Para Shedd, Deus em sua rica misericórdia sempre se preocupou com os desfavorecidos, estabelecendo leis que ajudaram os pobres em momentos de crise. O texto revela de maneira clara o desejo do coração de Deus quanto à questão da injustiça social. A justiça de Deus estabelecida pelas leis divinas tem como prioridade favorecer os pobres, aos que tem por direito, ser gente.

Certamente a igreja como povo específico para ser a agenciadora da missão, deve ter como modelo de visão missionária a visão de Deus. O autor da missão deseja que sua igreja cumpra seu papel de Igreja relevante para os pobres. A anunciação das boas novas do Reino ao povo deve estar acompanhada com práticas de justiça, é ver as injustiças como Deus vê, pois ele aborrece as opressões aos pobres, estrangeiros, viúvas e órfãos (Dt.10.18; 24.17; Ex.23.1,6,7; Lv. 19.15; Ex.22.25). A missão em sua integralidade tem como alvo salvar o homem em sua totalidade, oferecendo salvação, cura do corpo, acolhimento, provisão material, libertação e dignidade humana, concedendo ao indivíduo saúde moradia, alimento digno e qualificação profissional.

A missão é desafiadora, porém não é impossível. A abertura para essa possibilidade está no simples fato de que Deus é o autor da missão, e nós como igreja somos apenas cooperadores. É em Deus que a missão se realiza, ele é o criador, o provedor, o administrador, é nele que as barreiras são superadas, nele, a igreja sairá vitoriosa na missão. A ideia de confiar em esforços humanos para fazer a missão está descartada, somente em Cristo Jesus poderá haver êxito no cumprimento do que nos foi confiado, devemos confiar em sua fidelidade, em sua promessa para a igreja, convictos de que Deus haverá de cumprir sua missão por meio daqueles que foram chamados para serem do Reino.       

A MISSÃO INTEGRAL E A IGREJA NO PLANO INTEGRAL DE DEUS

O chamado para Igreja do Senhor Jesus aqui na terra está firmado em um único propósito, e este é o de fazer a missão. Deus em sua infinita misericórdia deseja restaurar o que foi danificado pela queda (Gn. 3.1-15). A ordem divina é reconstruir, restaurar, renovar, onde o alvo aponta para novos céus e nova terra (2. Pe.3.15; Ap.21.1; 2Co. 5.17). As terríveis consequências do Éden promovidas pela desobediência do casal adâmico atingiu toda a criação, gerando total degradação com consequência de morte ao ser humano, e isto em dois aspectos, a saber: Morte física e espiritual. (Gn.2.7; 20.7; Rm.5. 12-21; Ez.18.4).

Em seu projeto restaurador, o Deus da Glória chama a igreja para ser cooperadora de sua missão aqui na terra. Nós Igreja, recebemos de Deus a missão de participarmos juntamente com ele neste projeto. Isto implica em dizer que a igreja deve atuar numa dimensão global no que se refere a reconstrução integral da criação. Logo, podemos dizer que a missão de Deus é integral e nós somos chamados para sermos ajudadores nesta missão.

Como agenciadora da missão de Deus na terra, a igreja deve atuar em todas as áreas danificadas. A ação na missão integral não está limitada apenas em obra social que de costume fazemos em algumas de nossas igrejas. A missão integral como diz Ariovaldo Ramos, não está focada apenas em uma junção  (corpo e espírito, material, espiritual). Deus em sua missão deseja transformar toda a criação. Isto implica em dizer que a igreja como agenciadora, deve desenvolver um papel de extrema relevância na sociedade. Deve ser porta-voz de Deus na pregação do Evangelho de Jesus, denunciar as injustiças sociais, envolver-se nas questões econômicas e políticas lutando pela justiça agrária e urbana (Isaias 5.8), atuar em questões ecológicas ajudando a preservar o grande jardim chamado terra (Gn. 2.15), lutar pelo direito dos desfavorecidos, trazer dignidade aos desprezados. Fazer missão integral é envolver-se com Deus de forma integralizada nas questões do Reino.

É pregando e fazendo a missão integral que a igreja demonstra seu amor pela criação. Esta deve ser a verdadeira motivação. Amar a criação como Deus ama e quem ama edifica, serve, abre mão de si em benefício do outros, a igreja deve exercer um papel de serviçal do povo.

Pedro Arana diz: “A igreja, assim como o Senhor Jesus, deve ser uma igreja do caminho e não do balcão. Ela não pode permanecer como espectadora da história: tem de descer para onde se travam as lutas reais dos homens. Ali se encontram as necessidades, que são o chamado premente da Igreja para que possa cumprir sua missão” (Steuernagel, 86).

A igreja cumpre verdadeiramente sua missão quando ela sai para fazer, traspondo os limites de seu “gueto eclesiástico”. Deve liberta-se do confinamento, de seu “mosteiro”, e partir para o cumprimento da missão. A missão torna-se relevante quando a igreja compreende que sua ação deve transpor as barreiras da inercia, do tradicionalismo, do formalismo, da postura espectadora da história, do egoísmo, dos preconceitos. Em fim, como igreja devemos repensar nosso conceito sobre missão. Concordar com a trindade, sermos cooperadores de Deus em sua missão, agentes que interagem com Deus e a sociedade.

Como igreja, é preciso compreender a dimensão do Reino e da missão. Ver a missão com os olhos de Deus, aceitar a condição de serva sabendo que a missão é de Deus e não nossa. Entender a missão na sua integralidade, Fazer a missão de Deus é cooperar, amar, servir, agir, na expectativa de uma restauração de toda a criação.

A Igreja como serva deve seguir o exemplo da cruz. A prática de justiça aos desfavorecidos não se restringe apenas aos remidos.

Trilhar no caminho da cruz implica em renunciar a si mesmo em benefício do próximo. Como diz o teólogo Dietrich Bonhoeffer, “A igreja só é igreja, quando existe para os outros”.  E esta é a árdua tarefa da igreja, prestar serviços voluntários aos outros, quer por palavras ou em atos de fraternidade. Nossas ações não devem trazer benefícios apenas para os que fazem parte do “clã-evangélico”, mas proporcionar justiça para todos os que precisam dela. Na prática, estas ações devem alcançar os mais desfavorecidos, gente esquecida pelas autoridades políticas, como sem terra, sem teto, sem habitação, sem saúde, sem alimento, sem dignidade humana. Como serva, a igreja também deve pressionar as autoridades governamentais sobre as questões da injustiça aos desfavorecidos. Deve ser porta-voz dos mais fracos e oprimidos, protestar, denunciar, clamar. A mesma indignação da parte de Deus quanto às injustiças sociais deve refletir de forma relevante na missão da igreja. Como sal e luz do mundo, somos comissionados a sermos diferentes, seguindo o caminho da cruz.

Shedd diz:

“O estilo de Jesus, que Paulo imita e pede aos seus leitores que sigam seu exemplo, é o caminho da cruz, uma vida vivida a favor de outros, sacrificando a si mesmo por um mundo que perece devido à ignorância da verdade salvadora e pela igreja empenhada em aliviar os membros destituídos da “família”. Mas essas expressões materiais de compaixão não devem ficar limitadas aos remidos. Deus fez do seu povo sal e luz (Mt.5.14-16), indicando que a semelhança do bom samaritano, os cristãos se encontram sob as ordens do Mestre a fim de estender misericórdia compassiva a todos os “próximos” necessitados (Lc.10.26s). Além disso, “ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2 co.4.6)”. (SHEDD; 1984, p. 29-30).

A atitude de um “Bom samaritano” supera de forma alargada qualquer expectativa do sistema religioso. Esta superação está no fato de que os do Reino haverão de praticar a justiça não para receber algum tipo de recompensa ou reconhecimento terreno, mas a faz por amor a Deus e ao próximo. Esta justiça é expressa em atos de bondade, misericórdia, compaixão e acolhimento onde no sistema religioso não há espaço para tais práticas.
Nas palavras de Jesus, é revelada a grandeza e dimensão dessa justiça. Ela deve superar de forma abastarda a dos religiosos.

Disse Jesus: Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos Céus. (Mt.5.20).  

A justiça dos escribas e fariseus estava forjada em ritos, tradições, formas e legalidades. Jesus desafia seus discípulos a prática da verdadeira justiça. Esta deveria evidenciar-se não na aparência, mas em um coração transformado pelo poder do evangelho, um estilo de vida que reflete o caráter de Deus, uma maneira de adoração onde o Eteno é glorificado, onde não há necessidade de manifestações exteriorizadas para que outros vejam nossas práticas de justiça, uma justiça não egocêntrica, mas cristocêntrica.

A prática da verdadeira justiça vivenciada pelos discípulos de Jesus deve gerar perseguição, exclusão, descriminação, descontentamento, preconceito, foi assim que aconteceu com os profetas do AT e consequentemente com os discípulos de Cristo (Mt.5.10-12).

Então, fazer a missão é servir, concordar com a trindade, é ser do Reino e encarnar seus valores, é seguir o caminho da cruz, anunciando as boas novas, praticando ações de justiça até a manifestação do Rei Jesus em glória. Como já foi dito, a igreja não deve ser apenas uma espectadora dos fatos, mas desenvolver seu papel de serva, saciar sua fome e sede por justiça, compreendendo o profundo sentido de sua missão. Ao Deus toda a Glória para todo o sempre. Amém! 


Marcos Aurélio Dos Santos.



  
BIBLIOGRAFIA:

RAMOS, Ariovaldo, Igreja e eu com isso?, São Paulo: ed. Reflexão, 2012, 51pp.

SHEDD, P. Russell, A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia, São Paulo: ed. Vida Nova, 1984, 45pp.

QUEIROZ, Carlos, Ser é o Bastante: Felicidade à luz do sermão do monte, Viçosa: ed. Ultimato, Reflexão 2003, 229pp.

CONCORDÂNCIA BÍBLICA ABREVIADA: Edição contemporânea, E.U.A.1992. ed. Vida, 287pp.

BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de estudos Shedd. São Paulo: ed. Vida Nova, 1998. 1786 pp.

BÍBLIA SAGRADABíblia de estudo de Genebra. São Paulo: ed. Cultura Cristã, 1999. 1710pp.

CARRIKER, TIMÓTEO. Missão Integral: Uma teologia bíblica. São Paulo: ed. Sepal, 1992. Pg. 72-88.

SITES

www.teologiabrasileira.com.br     

www.teologiaevida.com.br

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www.prcarlosqueiroz.blospot.com

www.ariovaldoramos.blogspot.com